Jogos para sempre.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Campeonato Goiano de 1999 - Vila Nova 5 x 3 Goiás
Homenagem ao aniversário de 11 anos do maior jogo da história do futebol goiano.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos.

Quando adentrei o local da batalha, os exércitos já estavam postados em campo. Como goiano que sou, apesar de vários clássicos vividos, aquela época, e ainda hoje, me arrepia ver o Serra Dourada dividido pelas cores Vermelho e Verde. Algo inexplicável em palavras. Mas aquele dia as coisas pareciam diferentes. Não nas arquibancadas, porque lá, como de costume, a porção vermelha era mais eufórica, mais apaixonada, mais fiel e infinitamente mais bonita. Não era essa a diferença.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. O Sol, astro rei e detentor de sabedoria divina, reconhecendo a tarde inesquecível que estava por vir, parecia brilhar mais intenso. O manto vermelho parecia mais forte. Mais denso. Parecia suplicar: “- Hoje a batalha será difícil, mas por favor, não me abandone.” Nem precisava pedir.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. Quando a bola rolou, eu ainda procurava lugar para ficar. Os 42 mil privilegiados que estavam no estádio naquele dia, ocupavam grande parte dos lugares. Me restou acomodar atrás de um dos gols. Mal sabia que ali seria o local ideal para ver a chuva de gols que viria a seguir.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. Os jogadores de verde começaram melhor. Era um bom time, não há como negar. Fernandão, Marquinhos, Araújo, Alex Dias envolveram o time colorado e antes que eu me desse conta, o jogo já estava 2x0. O lado verde explodia. Ironizava, Vibrava, Cantarolava. Como sempre fazem somente quando o placar está a seu favor. Quando o jogo foi para o intervalo,o exército de vermelho tinha um soldado a menos e eu já torcia para que o placar ficasse assim até o final do jogo.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. No início do segundo tempo, algo de estranho começou a ocorrer. A torcida vermelha, mesmo perdendo o jogo, voltara mais confiante que o lado de lá. Foi quando o tal Fernandão converteu um pênalti e teve a infeliz idéia de imitar um tigre morrendo em sua comemoração. Fechei os olhos, abaixei a cabeça. Fiquei o que pareceu ser alguns minutos de cabeça baixa ouvindo o lado verde vibrar, e imaginei que quando tivesse forças para levantar de novo, muitos dos colorados que ali estavam, já estariam se dirigindo para a saída do estádio. Que engano! Naquele dia aprendi e o tal Fernando também. Nunca brinque com um tigre.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. O estádio parecia o mesmo. A torcida vermelha estava intacta. Parecia que sabiam o que estava por vir. Foi quando um dos guerreiros de vermelho começou a se destacar. Anderson, número 8, eterno carrasco do time verde, foi derrubado dentro da grande área, conseguiu a expulsão do defensor verde, igualou o número de guerreiros na batalha e ainda de quebra converteu o pênalti de forma impecável. Sem dar tempo para o adversário se recuperar do golpe, o camisa 9 se atirou como uma flecha por entre a zaga verde, e com a tranqüilidade de um matador nato, arrematou alto sem chances para o goleiro adversário. Nesse momento, a torcida verde já tinha voltado para sua habitual postura de espectadores. 3x2. Metade do segundo tempo ainda para se jogar. Era possível.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. Leonardo Valença, o capitão colorado, dominou a bola no meio campo e pintou um quadro que jamais sairá da cabeça de nenhum colorado. Muito menos dos esmeraldinos. Alguns passos a frente. Um olhar de águia. Um chute. A bola viajou em um instante que durou uma eternidade. Naquele momento a garra e a força daquela torcida sofrida, batalhadora e apaixonada, fez com que a bola flutuasse por sobre o tapete verde. A bola caiu suave, sorrindo, graciosa, estufando o barbante da meta verde. O Serra dourada explodiu em um sopro de euforia inesquecível. Tínhamos empatado.


Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. O empate não era suficiente. Precisávamos de mais. Queríamos mais. Podíamos mais. Foram alguns minutos de um jogo de uma torcida só, até que o que parecia outrora impossível aconteceu. Uma falta próxima a intermediária. Bola posicionada a direta do semicírculo. Luizão, guerreiro, em uma cobrança digna de cinema, coloca a bola em curva no ângulo superior esquerdo do goleiro esmeraldino. Inacreditável. Tínhamos virado. A camisa esmeraldina desbotara. O que se via eram guerreiros fardados de vermelho contra ovelhas marrons correndo em debandada. O lado verde levantou em procissão fúnebre em direção ao portão de saída. Mas ainda faltava a última pá de cal.

Eu estava lá e vou contar para os meus filhos. Luciano Goiano, vilanovense, criado nas categorias de base do tigre, modelo exportação, sacramentou o massacre com requintes de crueldade. Ao sair cara a cara com o goleiro, sobrou técnica e raciocínio rápido para encobrir mais uma vez o infeliz. Toque de classe. O jogo estava liquidado. O periquito estava devidamente morto e sepultado, juntamente com a arrogância e empáfia da sua platéia que se diz torcida. O exército colorado conquistara a maior vitória da história do maior clássico do Centro-Oeste goiano. Para sempre, qualquer momento de toda a história desse clássico, sempre ficará a lembrança daquela tarde de domingo, 28 de março de 1999.

Ontem se completaram 11 anos daquele grande dia. Para celebrar o aniversário, vitória do Vila mantendo a hegemonia dentro do OBA e quebrando um jejum de 3 anos sem vencer o rival. Dizem que o fantasma de um tal 5x3 passou pelos vestiários do OBA durante o intervalo. Não sei se foi verdade, mas isso explicaria a vontade colorada e o pânico estampado no rosto do jogadores adversários em mais uma virada.


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