Além do Papai Noel, do Velho do Saco e da Fada do Dente, descobri outras mentiras que nos contam quando ainda crianças. Coisas que você descobre depois dos seus vinte e poucos anos. Coisas essas que você percebe da forma mais dolorosa possível: vivendo.
Vivendo você percebe que viver não é o que dizem por aí. Que o mundo, a vida, e em especial as pessoas, não são como pareciam ser. O mundo é cruel, a vida é curta e as pessoas são ruins. Ruins em sua essência. Na forma bruta e pura, são más. Mudam de comportamento de acordo com a conveniência. Aprendem a gostar e respeitar para viver em comunidade, mas na hora que a ferida aperta, mostram sua real face. Sendo como são, as pessoas mentem, enganam, fingem, maltratam e passam por cima uma das outras.
Viver é um perder constante. A cada dia você perde algo novo. E quando pensa que não tem mais o que perder, você perde essa certeza também. E na dor da perda, não pense em contar com ninguém. Na maioria das vezes a dor será só sua. E vão ainda querer achar que sua dor não é tão grande assim, ou vão sugerir soluções banais para ela. Seus amigos e familiares estarão muito ocupados com as próprias dores, dores essas que você também ignorou. Alguém te dirá que logo vai passar. Não passa.
É nesse mar de dor e incerteza que você perde a esperança nessa vida. Você levanta e dorme cada dia mais velho, mais cansado. Inevitável. Pessoas entram e saem da sua vida e você nem mesmo se dá conta. Não existe tempo nem mesmo para um adeus. Seus primos crescem. Tornam-se pessoas diferentes das que você gostaria que se tornassem. Você não os reconhece mais. Tomam atitudes que você nunca achou que tomariam. Se esquecem dos tempos de infância. Distanciam. Mudam.
Seus pais estão cada vez mais velhos, mais chatos, mais sábios e mais distantes. Você sabe muito mais da vida do seu chefe do que do seu próprio irmão. A cidade ficou pequena. O tempo que você vive é sempre pior do que o que passou. Você sempre fantasia que no seu tempo era melhor. As escolas, as festas, as pessoas. Mentira. Continua tudo igual. Você e sua opinião não fazem a menor diferença. Essa foi uma das descobertas mais doloridas. Você é totalmente substituível. Nada nem ninguém escapa dessa realidade. Por mais que você faça, pense, sinta, na sua falta, nada vai faltar. Se você morrer cedo, sua mulher casará com outro. Seu filho o chamará de pai. Seu emprego será assumido por outro. Sua mesa será a dele. E você não passará de uma foto empoeirada ou um suspiro em um fim de tarde qualquer.
Não espere consideração das pessoas. Elas não terão. Ninguém valoriza o que você já fez ou sente. As pessoas são ingratas e tem memória seletiva. Banalizaram o amor de tal forma que o utilizam sem o menor pudor. Julgam e apontam o tempo todo. Você só tem a si mesmo para confiar.
Sua avó morre. Sua cachorra de estimação também. Seus tios mais legais adoecem, moram longe, morrem. Seus amigos viraram colegas, e seus colegas não existem mais. Seu aniversário se aproxima e isso não significa mais uma alegria. É o dia que sacramenta seu tempo se esgotando. O dia que as pessoas que se esqueceram de você o ano todo fingem se importar. Melancólico.
O pior disso tudo, é que mesmo vacinado, você ainda fraqueja. E a pessoa em que você mais confia, a que você julga ser diferente de todas as outras, de tudo isso descrito acima, se mostra a pior delas.
Não acredite no "pra sempre", e muito menos nas promessas das pessoas. Não se entregue totalmente a ninguém. Se entregue, mas nunca totalmente. Procure ser auto-suficiente. Você deve se bastar. Do contrário a dor e a decepção serão inevitáveis. Meu principal erro sempre foi de esperar que as pessoas demonstrem e tenham por mim, a mesma dedicação e consideração que tenho por elas. Que elas se lembrassem do que eu fiz, e o quanto já fui importante em algum momento. Que tolice. Isso não existe.
Por isso gosto tanto das crianças. Elas não aprenderam ainda a ser assim como as pessoas.
São puras, verdadeiras, confiáveis.
E ainda acreditam em Papai Noel, Velho do Saco e na Fada do Dente.
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